Os técnicos relatam que em alguns pontos da região Norte produtores estão prevendo perda total da produção. Em agosto, o Deral confirmou a quebra de 9%. Com o aumento das chuvas, esse índice deve ser maior. O secretário de Agricultura Valter Bianchini já fala em redução de 20%. “É uma queda lastimável”, declarou ele semana passada, em encontro com produtores em Tibagi. O levantamento mais recente do Deral, divulgado no final do mês passado, prevê a colheita de 3,17 milhões de toneladas. A previsão inicial era de que o plantio de 1,29 milhão de hectares rendesse ao estado 3,49 milhões toneladas de trigo.
Otmar Hübner, técnico do Deral, comenta que o maior problema foi o prolongamento da chuva. “Nas regiões onde o trigo é plantado antes, a situação ficou pior. As espigas que não apodreceram acabaram favorecendo a germinação de grãos”, diz, acrescentando que, mesmo com rigor visto nas lavouras do estado, como o escalonamento de plantio, uso de variedades diversas e manejo adequado, o clima deste ano foi atípico e pegou a todos de surpresa.
Para Ely Germano Neto, que plantou 2,5 mil hectares em áreas em Arapoti e Piraí do Sul, no Centro-Sul do estado, o susto foi grande. A produtividade, que chegou a atingir picos de 7 mil quilos por hectare no ano passado, com média de 5 mil kg/ha, não passou de 1,5 mil Kg/ha no primeiro talhão colhido, na semana passada. “Os primeiros dias de colheita já mostram a queda na qualidade dos grãos”, diz ele, prevendo prejuízo, já que o valor pago pelo trigo de menor qualidade, destinado a ração, equivale a 20% do valor do grão à panificação (hoje em R$ 500 por tonelada). A quebra foi causada pela giberela, doença fúngica que afeta a formação das espiga e o enchimento dos grãos.
Francisco Simioni, diretor do Deral, confirma que a redução não deve comprometer somente a produtividade, mas a qualidade do trigo. “Isso vai acabar interferindo nos preços”, ressaltou durante reunião com representantes de cooperativas e entidades agrícolas. No encontro, foram apresentados dados da Embrapa sobre a situação da cultura. Os dados mostram que dos quase 1,3 milhão de hectares semeados com trigo no Paraná, pelo menos 780 mil, ou 60% da área, poderão sofrer prejuízos de até 80% devido ao excesso de chuvas.
Na região Centro-Oeste, uma das primeiras a plantar trigo no Paraná, a produtividade não deve chegar a 2 mil quilos por hectare, ante expectativa de mais de 3 mil kg/ha. No Centro-Sul, onde a colheita ainda deve se estender por cerca de 60 dias, produtores confirmam queda de até 80% no rendimento médio, que em condições normais deveria chegar a 3,25 mil kg/ha.
Na fazenda Wilhelm Marques Dib, no município de Sengés, próximo a divisa com São Paulo, a média acima de 3 mil kg/ha do ano passado deve cair pelo menos 25%. É o que prevê o agrônomo Carlo Rodrigo Dornelles, que acompanha a área. “Ainda temos pelo menos dois meses de colheita, mas já dá para ver que não teremos o resultado esperado”. Ele lembra que houve excesso de chuvas durante todo o desenvolvimento da lavoura, o que disseminou os fungos causadores da giberela e da brusone.
Precipitação
Levantamento do Instituto Agronômico do Paraná (Iapar) mostra que nos últimos meses houve excesso de chuvas em todo o estado. Em junho, choveu 108 mm, sendo que a média histórica é de 89 mm. A média para julho é de 64 mm, mas choveu 244 mm, quase quatro vezes mais. Já o mês de agosto registrou precipitação de 80 mm, também acima do histórico de 53 mm. O mês de julho registrou o maior índice de chuva medido pelo instituto, desde 1976.
Fonte: Gazeta do Povo - http://portal.rpc.com.br/gazetadopovo/caminhosdocampo/conteudo.phtml?tl=1&id=925009&tit=Trigo-de-safra-recorde-vira-prejuizo-no-Parana
Nenhum comentário:
Postar um comentário